Filmes de José António Correia Pais (1953-2014) - Coleção de Maria da Assunção – Acompanhados por Raquel André (com música de Alva Noto e Ryuichi Sakamoto)
16/08/20
Querid_s,
escrevo esta carta logo depois de ter tido o prazer de ler as cartas que José António Correia Pais escreveu entre 1981 e 1982 para a sua querida namorada na época e mais tarde sua esposa, São (Maria da Assunção).
Estas cartas chegaram até mim acompanhadas por uma compilação de 37 minutos de imagens filmadas pelo próprio.
A convite da Divisão de Arquivo Municipal - Videoteca da Câmara Municipal de Lisboa realizei uma leitura das cartas acompanhando o arquivo em vídeo.
Essas cartas são manuscritas pelo José António Correia Pais, são uma viagem à sua intimidade, ao seu tempo e principalmente à sua saudade pela São.
Li todas, mas algumas partes e sobretudo algumas palavras são difíceis de identificar, a sua letra por vezes tornou-se de difícil leitura, possivelmente devido ao meu olhar já pouco habituado à letra manuscrita. A leitura que gravei para acompanhar as imagens tem portanto essa fragilidade, partes de texto em falta ou cortes de entendimento do texto, contudo parecendo-me possível tornar audível essa relação com a letra do José António Correia Pais.
A leitura que acompanha as imagens não é portanto uma leitura completa das cartas entregues ao Arquivo dos Diários. As imagens são uma viagem por diversos lugares e situações em Lisboa sem uma narrativa linear, já as cartas são narrativas do seu quotidiano dirigidas a uma pessoa singular.
Tive o prazer de visitar um dos lugares registado no vídeo, um lugar que foi destruído e que por estas imagens podemos ter acesso ao que não existe mais, ao que já se transformou em outras histórias.
Este arquivo é um convite à descoberta de uma história pessoal e a uma história de uma época, neste sentido, visitar aquele lugar hoje depois de assistir àquelas imagens foi uma viagem a uma memória que não é minha mas que me revelou uma sensação inédita de conhecer um lugar através do seu passado.
Obrigada,
Raquel André