1-Fotografia de Fátima Tomé
2-Parque da Belavista, 1999. Fotografia de Paula Figueiredo. © Arquivo Municipal de Lisboa
3-Rua Ferreira de Castro, 2012. Fotografia de José Vicente. © Arquivo Municipal de Lisboa
4-Rua Ricardo Ornelas, Bairro da Flamenga, 1998. © Pedro Letria
Conversa com Filipe André Alves, Fátima Tomé e Inês Sapeta Dias
RAP’s de Chelas selecionados e comentados por Filipe André Alves
Regula, Lisa Chu feat Mc Snake OG
(Mc Snake OG está naquele grafiti dos prédios amarelos da Zona N1, Bela Vista, morto pela polícia sem razão aparente a não ser a sua aparência. Sempre teve medo da polícia por ter “estilo hip hop”, segundo se conta)
Esta e a próxima música revelam a relação entre Chelas e os bairros orientais da grande Lisboa, bairros com os mesmos problemas sociais e colocados à margem pela falta de acessos. Estes bairros cresceram como arquipélagos de pequenas ilhas inacessíveis. “Catujal e Chelas mais uma vez na mesma merda”
Regula, Lisa Chu feat Sam The Kid,
refere Chelas no início da música e fala na subida do Valsassina (Azinhaga das Teresinhas) comparada a um grande obstáculo. Esta estrada a mais de 45º começava na Avenida Gago Coutinho e terminava em Chelas perto do colégio Valsassina atravessando o limite do antigo bairro de casas pré-fabricadas, Camboja ou Bairro do Relógio. Era a única ligação entre Alvalade e Chelas em todo o percurso desde Areeiro à rotunda do relógio.
Sam the Kid, Negociantes feat Mc Snake OG,
falam de várias personagens conhecidas de Chelas, usam termos e contam acerca de vivências de época.
Esta música fala-nos de negociantes, centrando-se nas possibilidades de sustento monetário de quem vive em bairros como Chelas. Conta a dificuldade durante a mudança do escudo para o euro e da visão de quem saíu da cadeia durante essa transição. É a visão da surpresa do euro, da Expo98. A surpresa do aparecimento dos acessos para o centro da cidade e abertura do bairro ao resto da cidade.
Beto Di Getto, Nasci na Getto,
localiza logo em português onde o poema se passa, Zona J e Zona M. Letra em crioulo. Beto Di Ghetto é uma das personagens mais importantes da música de Chelas, suicidou-se por desilusão ou dificuldades na vida, segundo se conta. Conta o bairro de Chelas como um gueto com a dificuldade de esperança e de futuro.
Sam the Kid, Chelas
É o hino de Chelas. Esta música relata a realidade e transporta-nos para a atmosfera deste bairro.
Sam The Kid, Sofia
Esta canção começa com o relato das festas que se faziam no liceu Dom Dinis em Chelas no final de um período escolar. Fala da gravidez na adolescência, coisa recorrente em muitos jovens que conheci antes da entrada na idade adulta. Era bastante comum. Conta as possíveis aventuras que aconteciam numa possível fuga de Chelas. Naquela altura era bastante comum uma ida à 24 de julho ver os picanços de motas.
Sam the Kid, Slides (referências)
... acho que é uma das músicas mais importantes e conta muito bem como tudo era num verão com pouco a fazer. Nesta letra é descrita a ligação entre Chelas e Alvalade encontrada num pequeno centro comercial (ACSANTOS), que funciona desde 1983 na Avenida da Igreja em Alvalade e que era um sitio com clube de vídeo, loja de música e de vídeo-jogos, segundo me lembro. Esta música contém termos de época, como quando chamávamos alguém de janela para janela e gritávamos o nome da pessoa em tom de eco; fala de moda como as calças (calinas) ao contrário, das carteiras da marca Dunas e das mochilas Monte Campo e do penteado “à foda-se”, uma espécie de penteado cogumelo com o cabelo rapado por baixo, o qual também usei. Toda a gente usava estas modas. Esta música em específico transporta-nos para o verão, para os bailaricos, para as noites de santos populares no bairro de Chelas. Um verão sem escola e com muito pouco a fazer. Refere o jogo 1⁄4 de hora, no qual consistia dar um “calduço” a um amigo e gritar 1⁄4 de hora. Durante 15 minutos não poderia haver retaliação pela parte do lesado o que dava tempo para a fuga do agressor.